como torneira quebrada,
não param de pingar.
– meus olhos
como torneira quebrada,
não param de pingar.
– meus olhos
nada de impermeável em mim.
em um mundo ensimesmado, com pensamento cheio de esquecimento: sentir em demasia. atravessamentos. quereres de verdades.
em ser consciência corporificada: fazer do cuidado terreno fértil. afeto.
num engasgo atravessado mal permitindo deglutir e respirar, encontrar na terra meio de descarregar. inchada. enxada.
reterritorializar o lugar do sensível desterritorializado do corpo. no corpo.
nessa dança corpo-terra-enxada-muda de descarga-(re)carga nessa terra viva-vida, em dar, receber, trocar, cuidar, enraizar… aterrar. na presença, o respirar. (des)aguar. sentir. devir.
esses dias você me perguntou como anda o coração. rimos. vez ou outra você fala que minha anatomia é errada. eu, toda coração? é um sentir que transborda, concordo. confesso. dentre tudo, rimos. tenho sido péssima para responder tuas mensagens. tenho sido péssima pra muitas coisas (mas estou sendo ótima em outras, já te adianto).
peguei uma taça de vinho pra te responder. agora vai. acredita. os dias andam movimentados. chove muito em São Paulo (mas também quase morro de calor). todo dia. chove tanto que começou a chover dentro do meu apartamento. chove pela lâmpada do meu banheiro, acredita?! pois é. ontem tive um surto de raiva, num combo insano de tpm, saudade, tristeza, mágoa, indignação e pingos caindo direto da lâmpada no balde. cada “ploc” era um surto. cada “ploc”… ploc. ai as referências…
sim, tô bem. esses dias descobri que é possível estar bem e triste ao mesmo tempo. quantos anos demorei pra descobrir isso, menina! voltei pra academia (ainda não passei do primeiro mês, mas vamos ter fé), tenho pedalado toda semana. vou sozinha no parque. é ótimo. te mando foto na próxima. to tentando ir te visitar. torce pro preço da passagem baixar. voltei a ler bem, to trabalhando bastante, tenho visto meus amigos com frequência. lugares seguros, já falamos sobre isso. estamos todos vacinados. 3 doses. é um respiro. ainda não sei muito bem como lidar com tudo. com o mundo. comigo. tenho dançado pouco, mas vez ou outra o corpo pulsa. viciei numa música nova. não consigo parar de ouvir. as primeiras vezes que ouvi o corpo todo respondeu. foi bonito. pulsou de dentro pra fora.
tem muita coisa bagunçada aqui dentro. é. todos os dias minha mente vai lá. ainda sinto uma saudade que me faz questionar “como uma falta pode ocupar tanto espaço?”. são os detalhes. esses dias fiz mousse de maracujá e fiquei triste. sim. com minha sobremesa preferida. sou ridícula, eu sei. são os detalhes. o problema é que todos os dias são cheios de detalhes.
indiferente?
indesejável?
às vezes enrosco. sempre transbordo.
como ainda pode ser amor?
a analista não aguentava mais ouvir o nome dele. repetidamente. a mesma coisa. semana após semana. sessão após sessão.
“ele“
“ele“
“ele“
“ele“
há meses. semana após semana. sessão após sessão.
a analista não aguentava mais ouvir o nome dele, projetava a analisanda.
“não há meio de me seguir sem passar por meus significantes” diz Lacan. e haja significante para tanto significado, viu?! tenho ouvido. sentido. tanto. meu sonho feliz era chegar e já cair no mar, Marina. caí. foram dois meses de sol e sal. quando eu morrer também quero voltar pra viver todos os instantes que não vivi junto do mar, Bethânia. era prosa com Iemanjá dia sim, dia também. aguei. desaguei. e não sei bem se o amor é azulzinho, Gal. hoje falei no trabalho sobre faltas que ocupam muito espaço. como pode uma falta ocupar tanto espaço? também não sei sentir pela metade e vi prioridades que viraram tanto faz, Baco. exagero. tamo aí tentando esconder nossas dores, porque nada conseguiu tirá-las… achar a autoestima. também não nego ternura, Luedji, mas rimei amor e dor tantas vezes. desculpa, Caetano. fevereiro chegou e saudade continuou matando a gente, Geraldo. quantas noites sem dormir, Sandy? mas eu que nem sabia contar gotas, aprendi a nadar e temperei com calma meu desassossego, Liniker. e sabe?! só o sol sabe me querer bem mesmo, Rosa Neon.
a playlist conclui que: quando fevereiro chegar, ai que delícia o verão! as folhas caem no quintal.
à beira do abismo
na beira
caí.
contava os dias pra correr pros braços dele
mas ele fechou os braços.
um ano atrás era melodia
meus ouvidos ouviam exatamente o que queriam
hoje, silêncio.
ensurdecedor.