como torneira quebrada,
não param de pingar.
– meus olhos
como torneira quebrada,
não param de pingar.
– meus olhos
indiferente?
indesejável?
às vezes enrosco. sempre transbordo.
como ainda pode ser amor?
a analista não aguentava mais ouvir o nome dele. repetidamente. a mesma coisa. semana após semana. sessão após sessão.
“ele“
“ele“
“ele“
“ele“
há meses. semana após semana. sessão após sessão.
a analista não aguentava mais ouvir o nome dele, projetava a analisanda.
“não há meio de me seguir sem passar por meus significantes” diz Lacan. e haja significante para tanto significado, viu?! tenho ouvido. sentido. tanto. meu sonho feliz era chegar e já cair no mar, Marina. caí. foram dois meses de sol e sal. quando eu morrer também quero voltar pra viver todos os instantes que não vivi junto do mar, Bethânia. era prosa com Iemanjá dia sim, dia também. aguei. desaguei. e não sei bem se o amor é azulzinho, Gal. hoje falei no trabalho sobre faltas que ocupam muito espaço. como pode uma falta ocupar tanto espaço? também não sei sentir pela metade e vi prioridades que viraram tanto faz, Baco. exagero. tamo aí tentando esconder nossas dores, porque nada conseguiu tirá-las… achar a autoestima. também não nego ternura, Luedji, mas rimei amor e dor tantas vezes. desculpa, Caetano. fevereiro chegou e saudade continuou matando a gente, Geraldo. quantas noites sem dormir, Sandy? mas eu que nem sabia contar gotas, aprendi a nadar e temperei com calma meu desassossego, Liniker. e sabe?! só o sol sabe me querer bem mesmo, Rosa Neon.
a playlist conclui que: quando fevereiro chegar, ai que delícia o verão! as folhas caem no quintal.
à beira do abismo
na beira
caí.
contava os dias pra correr pros braços dele
mas ele fechou os braços.
um ano atrás era melodia
meus ouvidos ouviam exatamente o que queriam
hoje, silêncio.
ensurdecedor.
verto em água salgada
não sei mais o que é lágrima e o que é mar
como puderam sair da mesma boca
as coisas mais lindas
e as mais cruéis
que já ouvi?
quanto tempo ambas levam
pra sair de mim?